arte no tempo : blog

A Associação Arte no Tempo tem por objectivo a divulgação da arte musical contemporânea através da promoção de eventos culturais, do incentivo à criação e à interpretação, da edição e da realização de actividades performativas.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Suleiman Bakhit: animação do médio-oriente


O Público de hoje traz um interessante trabalho sobre animação árabe - entrevista a Suleiman Bakhit, criador da Aranim.

Um dia, uma menina americana perguntou a Bakhit:

"Vocês têm uma Barbie árabe? Têm um Superman árabe? Têm heróis?"
Bakhit ficou em pânico. Sem palavras. Só pensava: "Oh, meu Deus, não temos super-heróis. Não temos cartoons árabes. Não temos as nossas histórias. Noventa por cento do que chega até nós vem do estrangeiro. Foi então que tive uma ideia, que nunca mais saiu da minha cabeça: preciso de arranjar heróis que sejam fonte de inspiração e de esperança para a juventude árabe. Quero ser o Walt Disney do mundo árabe, criar personagens fantásticas e uma Disneylândia, para mudar o modo como os árabes se vêem e os outros nos vêem."
Margarida Santos Lopes, in Público (29.05.2008)

Vale a pena consultar no Público (P2).
O mesmo caderno traz outro óptimo trabalho de Alexandra Prado Coelho.

cancelado


Embora ainda não conste no site da Casa da Música qualquer informação sobre o cancelamento do concerto de Sábado da ONP, constato, ao visitá-lo, que a informação já foi retirada.
Lamentando as circunstâncias que aparentemente conduziram ao cancelamento do concerto, queria apenas esclarecer que não foi por ilusão nossa que andámos a anunciar que o Pedro Carneiro ia tocar o Concerto de Alejandro Viñao...

O concerto do Remix Ensemble mantém-se à hora prevista, parece.

Visões Úteis e activas


No âmbito da programação paralela ao XXI FITEI, o Visões Úteis inaugura a exposição "Vou ao Porto" - fotografia de Paulo Pimenta, no dia 31 de Maio, pelas 16h, na Estaço de Metro do Campo 24 de Agosto (até 8 de Junho, das 10h00 às 22hoo).
Às 24h, estreia-se "A Caminho do Resto do Mundo", na Praça da Ribeira - um filme documentário de Pedro Maia.

Ambos os projectos nasceram do espectáculo "O Resto do Mundo" - teatro num táxi pela cidade, estreado em 2007 no XXX FITEI, e da ligação à zona oriental do Porto que o mesmo espectáculo proporcionou.

"...Em particular às pessoas. Este foi sem dúvida o nosso projecto que mexeu com mais gente. Dificilmente alguém imaginará a quantidade de pessoas que envolveu um espectáculo que não permitia mais que três espectadores por noite (o banco traseiro do táxi). Dos moradores aos assistentes sociais, todos foram de uma incrível generosidade para connosco. Entre pré-produção, ensaios, espectáculos, e projectos que se seguiram, foi mais de um ano de ligação. Os trabalhos do Paulo Pimenta e do Pedro Maia, para além do seu intrínseco valor artístico, são um testemunho desse processo e dessa ligação. Tal como a nossa viagem pela Europa em 2001, esta viagem pelo Porto foi, sem dúvida, um processo artístico e pessoal que deixou marcas profundas."
Catarina Martins

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Concerto de Viñao por Pedro Carneiro


Por que é que devemos ir à Casa da Música ouvir o Concerto para Marimba de Alejandro Viñao?
Pedro Carneiro dá-nos algumas boas razões:

"Foi na Primavera de 1994, no meu 1º ano na Guildhall School of Music and Drama, em Londres, que descobri esta nova obra de Alejandro Viñao, que tinha sido estreada no Outono anterior, pelo virtuoso norte-americano Robert Van Sice. A escrita de Viñao revelou-se-me tão
profundamente radical, que fez com que me dedicasse a aprender este concerto, durante um ano inteiro.

Poucos meses depois, conheci o compositor, de quem me tornei amigo e colaborador frequente. Desde então, tenho vindo (juntamente com o dedicatário da obra e com um colega Japonês, Kunihiko Komori: os três únicos percussionistas que têm a obra em repertório) a realizar uma
versão final da obra e, particularmente, da cadência.

A abordagem do compositor é, repito, de tal forma radical (a dificuldade técnica, a utilização de três ou mais registos em simultâneo, o elevado grau de construção polifónica, a duração da
obra e a sua intensidade) que existem 3 versões da cadência. Neste curto trecho - que constitui uma verdadeira explosão de todo o material temático do concerto - realizei uma versão pessoal, sob a supervisão do compositor, a partir das três versões existentes.

Acredito firmemente que esta obra de Viñao é um marco histórico na escrita para o instrumento e uma obra fundamental na afirmação da marimba como voz capaz de expressar da forma mais profunda a música do nosso tempo."
Pedro Carneiro

A música no Canadá, com Yann Martel


Ocasionalmente, vou passando pelo site em que Yann Martel divulga a "correspondência" que mantém com o Primeiro Ministro canadiano.
Esta semana toca um tema que nos é particularmente caro: a música não apenas do, mas no nosso tempo.
O autor justifica a escolha de A Sonata Kreutzer, de Tolstoi, para livro da quinzena.

"Why a book on music? Because serious music, at least as represented by new and classical music, is fast disappearing from our Canadian lives. I have belatedly learned of the latest proof of this: the CBC Radio Orchestra is to be disbanded. Already our public radio’s fare of music has been paltrified. There was once, Mr. Harper, a show called Two New Hours on CBC, hosted by Larry Lake. It played Canadian new music. Its last slot, surely the least desirable for any show, was on Sundays between 10 pm and midnight, too late for the early birds, too early for the night owls. Airing at that time, no surprise that few people managed to listen to it. When I did, though, I was grateful. New music is a strange offering. It is, as far as I can tell, music that has broken free. Free of rules, forms, traditions, expectations. Frontier music. New world music. Anarchy as music. Which might explain the screechy violins, the pianos gone crazy, the weird electronic stuff.

I have intense memories of listening to Two New Hours and doing nothing but that. Because really, it's impossible to read while your radio is sounding like two tractors mating. I suppose I'm more jaded when it comes to writing—jaded, jealous, bored, whatever. But I listened to Two New Hours out of pure curiosity. And I was surprised, moved and proud that there were creators out there responding to our world in such fresh and serious ways. Because it was clear to me: this was serious stuff, strange as it sounded. This was music that, under whatever guise, was the voice of a single person trying to communicate with me. And I listened, thrilled at the newness of it. That is, I listened until the show was cancelled.

And now the CBC Radio Orchestra, the last radio orchestra in North America, is to be similarly cancelled. No more, “That was _____, played by the CBC Radio Orchstra, conducted by Mario Bernardi,” as I heard for years. Who will play us our Bach and Mozart now, besides our R. Murray Schaffer and Christos Hatzis?

It amazes me that at a time when Canada is riding the commodities wave to unprecedented wealth, with most levels of government experiencing budgetary surpluses, that we are riding ourselves of a piddley little orchestra. If this is how we are when in fortune, how will we be when in misfortune? How much culture exactly can we do without before we have become lifeless, corporate drones?

I believe that both in good and bad times we need beautiful music."
Yann Martel


We simply need art music, "beautiful" (what does this mean?!) or not, diria eu.
Mesmo podendo não apreciar a escrita e os escritos de Martel, há que convir que o sr toca questões importantes.

os poemas do mar


Recebemos a informação de que no próximo dia 2 de Junho, a Fábrica da Ciência (que, afinal, talvez não seja tão alérgica a arte, ou então é institucionalmente condescendente) prossegue com um ciclo de poesia, organizado pela Fundação Jacinto Magalhães.
O encontro está marcado para as 21h30 (mas pelo que me foi dado verificar nos Contos na Barriga do Caracol, o horário é apenas uma metáfora).
E aqui fica o convite, tal como divulgado pela Fundação Jacinto Magalhães:
"Venha participar e traga-nos um poema sobre o Mar."

[Não dispomos de informação mais detalhada.]

Lego em Tomar


Depois de uma semana dedicada a pensar em Aveiro (num misto de persistência e teimosia), vamos a Tomar, no próximo fim-de-semana, ver o que a Comunidade 0937 juntamente com a autarquia local lá prepararam, para o fim-de-semana da criança.
Sábado (15h00-19h30 e 20h30-23h00) e Domingo (11h00-13h00 e 14h00-17h00), no Pavilhão Gimnodesportivo nabantino, estarão expostos vários modelos criados por elementos da Comunidade 0937, cobrindo temas como “Lego Technic” e “Lego City”, entre outros.
Pelo meio, haverá um concurso de criações alusivas ao “tijolo”, no 50º aniversário da Lego.

terça-feira, 27 de maio de 2008

A Dinamarca e Pedro Carneiro


...Ambos estarão na Casa da Música (CdM) no próximo fim-de-semana, mas mal se tocam.
Será no Sábado (31 de Maio), num intenso Focus Nórdico, em que apenas o Concerto para Marimba (1983) do argentino Alejandro Viñao (1951) e uma obra apresentada em estreia absoluta, encomendada pela CdM a Luís Cardoso (jovem compositor em residência, 2008), não serão obras de compositores dinamarqueses. Tudo o resto, de lá provém.

Às 18h00, na Sala Suggia, o fabuloso Peter Rundel dirigirá o percussionista Pedro Carneiro (que em Junho apresentará um espectáculo resultante do desafio "carta branca" lançado pelo CCB, em que retomará antigas colaborações artísticas) e a Orquestra Nacional do Porto, na interpretação do Concerto de Viñao (n. 1951). O resto do programa compõe-se com obras dos dinamarqueses Hans Abrahamsen (n. 1952) e Carl Nielsen (1865 – 1931), respectivamente Nacht und Trompeten e a conhecida Sinfonia n.º 5.
Depois de um breve intervalo para jantar, às 21h00 o Remix Ensemble completa a noite (com um concerto inicialmente previsto para a véspera), sob a direcção do maestro e compositor Rolf Gupta. De regresso à Dinamarca, ouviremos música de Bent Sørensen (1958), Per Nørgård (1932) – ambos já nossos conhecidos desde os 21os Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea, em 1997 –, Poul Ruders (1949), a estreia de Luís Cardoso, e ainda mais duas obras do “compositor do dia”, H. Abrahamsen (Schnee – conj. 1 e Märchenbilder).

A título de curiosidade, refira-se que a obra que ouviremos de Bent Sørensen (Minnewater, 1988) é o trabalho que está na base de uma versão para grupo de câmara (Minnelieder, 1994) ouvida na Fundação Calouste Gulbenkian, precisamente, em 1997, pelo Ensemble Caput (que a encomendara). Nesses mesmos Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea, para além da estreia nacional de Minnelieder, a Fundação Calouste Gulbenkian apresentava a estreia absoluta de uma obra que encomendara a Sørensen, The Birds of Lament.
Que seria de nós sem a Fundação Calouste Gulbenkian? Ter-se-ia criado mais cedo a Casa da Música? Ou estaríamos ainda por descobrir a arte musical do nosso tempo?

...Mas tudo isto depois do fim-de-semana em que ouvimos a Orquestra Barroca da Casa da Música com o Taverner Consort, dirigidos por mais um grande nome britânico da cena da música antiga, Andrew Parrott. Continua por igualar a energia conseguida com Fabio Biondi à frente daquela orquestra, no último Inverno, mas o programa do dia 24, composto por obras de J. H. Roman (1694 – 1758), D. Buxtehude (ca 1637 – 1707) e G. Ph. Telemann (1681 – 1767), não deixou de ser bastante interessante e agradável de se ouvir, com algumas subtilezas ao nível do som em momentos melhor conseguidos.

Cascudo conversa com Rosado


Na minha irregular visita a outras paragens, encontrei uma conversa da Teresa Cascudo com António Rosado (publicada há apenas duas semanas!).

Gostei em particular de uma resposta:

TC: Em que aspectos foi a influência de Ciccolini especialmente marcante para si?
AR: Uma das coisas nas quais ele me ajudou imenso foi na construção dos programas. Por vezes, cai-se na tentação de tocar uma peça apenas porque se gosta dela, ou porque é difícil, ou porque está na moda. Um programa deve ser encarado como um todo que deve fazer sentido, que deve ter uma razão de ser, coerência e um significado próprio. (...)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Vasco Negreiros em Alcobaça


O Cister Música prossegue e este fim-de-semana dois grupos vocais interpretarão programas antigos (o primeiro mais do que o segundo), precedidos algumas horas de conferências contextualizadoras por parte dos seus directores.
Amanhã, dia 24, o programa é composto por Hildegard Von Bingen (1098 - 1179), Oswald Von Wolkenstein (1376-1445) e Pérotin; no Domingo, poucos séculos mais tarde, Frei Manuel Cardoso (1566-1650) e Johann Hermann Schein (1586 - 1630).
Quem quiser saber mais, o melhor será mesmo ir até lá, já que o site do Cister Música é parco em informação. Algo mais se encontra no site do município.

Galeria de Exposições Temporárias do Mosteiro de Alcobaça
Sábado, dia 24 - 17h00
Conferência por Filipa Taipina
"Hildegard Von Bingen - a abadessa, o mosteiro e o poder"

Nave Central do Mosteiro de Alcobaça
Sábado, dia 24 - 21h30
Concerto pelo Mediae Vox Ensemble (Música sacra medieval)
"Ave Sponsa et Mater: O Amor Místico na obra de Hildegard von Bingen"

Galeria de Exposições Temporárias do Mosteiro de Alcobaça
Domingo, dia 25 - 15h00
Conferência por Vasco Negreiros
"Musica Poetica"

Refeitório do Mosteiro de Alcobaça
Domingo, dia 25 - 18h00
Concerto pelo Vocal Ensemble (Música sacra da Renascença e do Barroco)
"Musica Poetica"

Barrocos Nórdicos na CdM


Amanhã a Orquestra Barroca cruzará a "temática do ano", interpretando música nórdica com a colaboração do Taverner Consort, sob a direcção de Andrew Parrott.

Casa da Música
Sábado, 24 de Maio
Sala Suggia - 18h00

Orquestra Barroca da Casa da Música
Taverner Consort
Andrew Parrott,
direcção
Emily Van Evera, soprano
Annie Gill, mezzo-soprano
Marc Molomot, tenor
Christian Immler, barítono
Job Tomé, barítono

Programa:
Johan Helmich Roman
- Suite de Drottningholmsmusiken

Diderich Buxtehude
- Alles was ihr tut
- Jesu meines Lebens Leben
- Du Lebensfürst, Herr Jesu Christ

Georg Philipp Telemann
- Donner-Ode (1ª parte)
- Wassermusik
- Donner-Ode (2ª Parte)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Música de Câmara I


Há uma semana atrás, um quarteto de cordas interpretou alguns dos quartetos de juventude de Mozart. Por si só, isto não constitui grande notícia. Saber que o quarteto é português e que anda disposto a partilhar a sua leitura da integral de diferentes compositores clássicos é já alguma coisa. Saber que esse agrupamento mantém um trabalho muito regular é indício de que terá mais oportunidades para conseguir um sério exercício das suas funções, mas há aspectos ainda mais importantes: importa saber que o quarteto é português, constituído por jovens músicos, que foi seleccionado num concurso levado a cabo pela Câmara Municipal de Matosinhos (em que competiu com outras formações de profissionais “mais experientes”), cujo trabalho resulta numa portentosa diferença de nível que os coloca em vantagem em relação aos congéneres agrupamentos nacionais. Trata-se, pois, do Quarteto de Cordas de Matosinhos (QCM), mais uma forte aposta da autarquia nortenha na promoção da arte musical.
O grupo é criado no seguimento de uma já sólida tradição de divulgação do grande repertório, a que não falta uma forte componente participativa do presente (sinónimo da consciência da responsabilidade do poder local), traduzível no incentivo à criação sob a forma de encomendas a compositores portugueses.
A primeira apresentação pública do QCM teve lugar em Janeiro passado, quando se iniciou a (longuíssima) integral de Haydn. Desde, então, não houve ainda espaço para fugir aos clássicos (tendo-se avançado com importantes passos para a divulgação das integrais para quarteto de Cordas de Haydn e Mozart), mas já no próximo mês de Outubro terá início um novo período que muito caracterizará a sua acção: para além de se dedicar não apenas aos clássicos, mas sim a todo o grande repertório, o QCM estreará com frequência obras encomendas para o agrupamento pela autarquia. A definição da programação até ao final de 2009 é outro indicador da sua diferença (onde se encontra Haydn e Mozart, mas também Ives, Barber, Mendelssohn, Shostakovich, Frank, Schubert e oito estreias de encomendas feitas a oito portugueses, entre os quais Chagas Rosa, Pinho Vargas e Salazar), com um mínimo de dez programas diferentes por ano.
Todos seríamos muito mais felizes (ainda que não o saibamos) se a Câmara de Matosinhos não fosse um caso inédito no que respeita ao apoio à arte musical. Proporcionar um quadro de estabilidade para o desenvolvimento da actividade artística não será sinónimo de relaxamento e preguiça dos artistas, mas sim de alicerces para um percurso que possa orientar-se pelo rigor e a excelência.
Que as manifestações dos vizinhos (indepentemente da quantidade, já que a tendência é fechar-se os olhos à qualidade) não constituam sombra ou desculpa para que as autarquias se demitam de um pensado e sustentado apoio à actividade artística (de excelência) é o que sonhamos.
D. F.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Maria


Nasceu uma menina-princesa! O mundo será mais feliz.
Parabéns!
D. F.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Peças Frescas


Hoje e amanhã, no Teatro São Luiz, os alunos de composição da Escola Superior de Música de Lisboa terão oportunidade de ouvir e partilhar as suas peças, tocadas por alguns dos colegas instrumentistas da mesma escola.
Quem não conseguir estar presente às 19h, a Antena 2 possibilita a audição através da transmissão em directo no programa "Concerto Aberto".

Ciclo Novos x9
Peças Frescas | Novos Compositores
Teatro S. Luiz: Jardim de Inverno
dias 19 e 20 de Maio, 19h
- entrada livre -

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Prometeo - a tragédia da audição em Londres


Numa cidade onde tudo acontece, onde quase todas as semanas se estreia uma peça, de compositores mais ou menos conhecidos, não deixa de ser estranho que uma das mais importantes obras do séc. XX – Prometeo, tragedia dell’ascolto de Luigi Nono - tenha esperado quase 25 anos até ter a sua estreia britânica. Dito isto, pode-se justificar porque é que a longa espera não terá sido em vão.
Na conversa que tivemos com Nuria Schönberg Nono (e que será publicada no site da AnT brevemente), fomos alertados para o facto desta apresentação não ser apenas “mais uma” interpretação de Prometeo mas, pelo contrário, ser um importante passo na revitalização da obra. Pela primeira vez em mais de duas décadas, os músicos são todos diferentes (à excecpção da realização electrónica que continua a cargo de André Richard e do seu Experimental Studio de Friburgo) em relação aos que estrearam a obra em 1984 (apesar dos instrumentistas terem mudado frequentemente, o coro e os solistas foram-se mantendo sensivelmente os mesmos - Freiburg Solisten Choir, agora substituídos pelos Synergy Vocals). Ainda mais importante, metade destes músicos eram estudantes da Royal Academy of Music o que tornava esta interpretação um importante acontecimento.
A obra foi estreada em 1984 na Igreja de S. Lorenzo, em Veneza, sendo depois revista em 1985, e há quem a considere a mais importante obra de Nono. Tratando-se de um compositor Veneziano, uma das suas principais características é a espacialização e descentralização do lugar dos músicos, neste caso dispersos por toda a sala e não apenas no palco (tal como Monteverdi fazia na igreja de S. Marcos). H. Lachenmann descreveu a obra como um “gigante madrigal” e, de facto, as semelhanças são muitas – por exemplo, os quatro grupos orquestrais que formam um rectângulo no perímetro da sala têm todos a mesma formação que Monteverdi utilizava em S. Marcos, 7 cordas e 6 sopros, para além de que, durante a obra, são vários os momentos em que a sonoridade da obra se aproxima (com as devidas distâncias) de uma sonoridade algo Monteverdiana.
Uma interpretação de Prometeo não é algo que aconteça muito frequentemente e permitir que estudantes possam participar nessa experiência ao lado de profissionais de topo (como são os músicos da London Sinfonietta) é uma decisão louvável. Infelizmente algumas pessoas não perceberam a importância desta decisão e comentavam, antes do início do concerto, que usar estudantes é uma maneira fácil de poupar dinheiro. Não é mesmo disso que se trata. É uma maneira de manter viva a obra, de passar a vontade de fazer nova música aos mais novos, permitindo que grandes marcos da música do Sec. XX não sejam apenas tocados pelos já instituidos grupos de música contemporânea. Em suma, a apresentação de Prometeo no Royal Festival Hall foi um evento exemplar, com um resultado musical de elevado nível.

D.P.S.

Os Quartetos Vienenses pelo Quarteto de Matosinhos


Amanhã às 21h30, na Câmara de Matosinhos, realiza-se o terceiro dos quatro concertos dedicados pelo Quarteto de Matosinhos aos quartetos de juventude de W. A. Mozart.
Iniciado em Março passado, este primeiro ciclo da interpretação da integral dos quartetos de Mozart termina no dia 6 de Junho com os últimos três dos seis quartetos vienenses.

Escritos no Verão de 1973, os Quartetos Vienenses são os últimos dos quartetos de juventude, datando os seguintes quartetos de Mozart - os seis quartetos dedicados a Haydn - de nove anos mais tarde). Dos anteriores (os Quartetos Italianos ou Milaneses) separa-os apenas meia-dúzia de meses e a revelação dos quartetos op. 17 e op. 20 de Haydn que haviam fortemente impressionado o jovem Mozart.

Por muitos considerados como os menos entusiasmantes dos quartetos de Mozart, os Quartetos Vienenses são um bom desafio para um quarteto cujo trabalho se pretende impôr sob os mais exigentes padrões artísticos, como o Quarteto de Matosinhos.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Luigi Nono [29.jan.1924 - 08.mai.1990]


Faz hoje 18 anos que faleceu o compositor de Prometeo - Tragedia dell'ascolto.
O Dinis Pais e Sousa está em Londres e dar-nos-á brevemente conta da "Conversa Arte no Tempo" que conduziu esta tarde com Nuria Schönberg Nono (n. 07.mai.1932), bem como da interpretação de Prometeo a que assistirá amanhã à noite, no encerramento do festival "Luigi Nono - Fragments of Venice".
D.F.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A generosidade relatada de e por Yann Martel


Já que o João teve a amabilidade de escrever sobre a saga de generosidade de Yann Martel, relatada pelo próprio no site oficial da sua quinzenal oferta ao primeiro ministro canadiano, aqui fica uma nota e reencaminhamento. ...O João sabe sempre sintetizar/analisar todas as questões melhor do que ninguém.

(Há mais de quinze anos que gosto de me deixar orientar um bocadinho pela bússola do João - desculpa-me lá esta confissão assim tão em público.)
D.F.

Música na Gulbenkian


Na próxima segunda-feira, 12 de Maio, o Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian será palco para um evento que alimenta grandes expectativas.
Idomeneo, de W. A. Mozart, será apresentada em versão de concerto, sob a direcção do fabuloso Fabio Biondi, com a participação do não menos entusiasmante Ian Bostridge no papel-título.
O elenco soma a Europa Galante, o Opera Seria Chorus, os sopranos Emma Bell (Elettra) e Kate Royal (Ilia), o meio-soprano Christine Rice (Idamante) e o tenor Benjamin Hulett (Arbace).
D.F.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Tragedia dell'ascolto


24 anos depois da sua estreia absoluta, na igreja de San Lorenzo em Veneza, a maior obra de Luigi Nono, Prometeo - tragedia dell'ascolto, terá a sua estreia britânica no próximo dia 9 (repetindo no dia 10), no Royal Festival Hall, encerrando o festival que tem acontecido ao longo desta temporada, Luigi Nono - Fragments of Venice.

London Sinfonietta
Royal Academy of Music Manson Ensemble
Diego Masson - conductor
Patrick Bailey - conductor
Andre Richard - artistic coordination, spatial sound direction & concept
Caroline Chaniolleau - actor
Mathias Jung - actor
Experimental Studio for Acoustic Arts, Freiburg
Michael Ackersound - projection, electronic realisation
Reinhold Braigsound - projection, electronic realisation
Synergy Vocals

...mais informações aqui.

D.P.S

António Chagas Rosa: um português em Paris


Esta noite, às 20 horas, a obra As Feiticeiras, de António Chagas Rosa (a partir de texto de Maria Teresa Horta), será interpretada no Anfiteatro da Cité de la Musique (Paris), pelo Ensemble Musicatreize.
Se o tempo não faltar, esperamos poder trazer mais informação sobre esta obra fascinante e o seu autor antes do início do Verão.
D.F.

domingo, 4 de maio de 2008

Pogorelich na FCG e na CdM


Ivo Pogorelich regressa a Portugal, depois da sua passagem por Espinho, no encerramento do Festival do ano passado (29 de Julho de 2007).
Não contando com a Für Elise e a sonata de Scriabin, o programa que Pogorelich trouxe a Espinho parece ser exactamente o mesmo que traz agora à Fundação Calouste Gulbenkian (hoje, às 19h) e à Casa da Música (terça-feira, dia 6, às 19h30).
...Ou talvez não.
Pelo que se lê no programa da Casa da Música, sim.
Porém, no e-card da FCG lê-se "obras de Beethoven, Brahms, Rachmaninov", mas se formos ao site, podemos ler (apenas) obras Beethoven, Liszt e Granados.
A Casa da Música é mais explícita e indica mesmo:
Beethoven: sonatas op. 111 + op. 78
Brahms: Intermezzo op. 118 nº 2
Rachmaninov: sonata nº 2, op. 36

Resta saber quem tem razão (ou fará ele programas diferentes?!). É sempre difícil, quando um concerto da FCG repete na Casa da Música (ou vice-versa), ter a certeza de qual a instituição que indica o programa actualizado.

De qualquer modo, não tenciono ir averiguar...
D. F.

Gould, arte e ovos moles


The purpose of art is not the release of a momentary ejection of adrenaline, but rather the gradual lifelong construction of a state of wonder and serenity.

Encontrei isto. Parece que é Glenn Gould, mas não consigo perceber qual é a fonte.
Está na altura de revisitar o Dernier Puritain.
D. F.