arte no tempo : blog

A Associação Arte no Tempo tem por objectivo a divulgação da arte musical contemporânea através da promoção de eventos culturais, do incentivo à criação e à interpretação, da edição e da realização de actividades performativas.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

ano velho | obras novas

Já vai avançado o ano, mas não quero deixar passar a oportunidade de lembrar dois acontecimentos do final de 2005.

1. Saíu finalmente o livro da Cristina Fernandes:
Devoção e Teatralidade
As Vésperas de João de Sousa Vasconcelos e a prática liturgico-musical no Portugal pombalino

Conforme constante no site da Colibri, a obra "vem esclarecer o enigma em torno da figura misteriosa do compositor João de Sousa (cuja identidade era objecto de polémica desde as propostas de Ernesto Vieira no seu Diccionario Biographico de Muzicos Portugueses de 1900) no âmbito de um estudo de caso sobre um dos mais importantes géneros do reportório sacro setecentista: o Salmo de Vésperas em stile concertato."
Recomenda-se
vivamente a quem estiver a estudar a época.








2. Resultado da investigação de vários anos, o registo do Livro de Varios Motetes de Frei Manuel Cardoso, por Vasco Negreiros à frente do Vocal Ensemble, veio enfim a público (pela Arte Mágica), com concertos de lançamento em Évora, Ílhavo e Lisboa. Trata-se da primeira gravação integral duma colectânea portuguesa de música sacra.
Conta-se que saia em 2006 a tão aguardada edição facsimilada do Livro, pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda.
[A Arte no Tempo entrevistou Vasco Negreiros - aguarda-se TEMPO! para a edição da entrevista.]

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

íntimo

se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida

sulcaria com as unhas o medo de te perder... eu
veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possui e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor

depois... mudaria de nome de casa de cidade de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo

mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu
humilde e cansado piloto
que só te sonhar me morro de aflição

in O MEDO, al berto
(11.01.1948 - 13.06.1997)