arte no tempo : blog

A Associação Arte no Tempo tem por objectivo a divulgação da arte musical contemporânea através da promoção de eventos culturais, do incentivo à criação e à interpretação, da edição e da realização de actividades performativas.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Música de Câmara I


Há uma semana atrás, um quarteto de cordas interpretou alguns dos quartetos de juventude de Mozart. Por si só, isto não constitui grande notícia. Saber que o quarteto é português e que anda disposto a partilhar a sua leitura da integral de diferentes compositores clássicos é já alguma coisa. Saber que esse agrupamento mantém um trabalho muito regular é indício de que terá mais oportunidades para conseguir um sério exercício das suas funções, mas há aspectos ainda mais importantes: importa saber que o quarteto é português, constituído por jovens músicos, que foi seleccionado num concurso levado a cabo pela Câmara Municipal de Matosinhos (em que competiu com outras formações de profissionais “mais experientes”), cujo trabalho resulta numa portentosa diferença de nível que os coloca em vantagem em relação aos congéneres agrupamentos nacionais. Trata-se, pois, do Quarteto de Cordas de Matosinhos (QCM), mais uma forte aposta da autarquia nortenha na promoção da arte musical.
O grupo é criado no seguimento de uma já sólida tradição de divulgação do grande repertório, a que não falta uma forte componente participativa do presente (sinónimo da consciência da responsabilidade do poder local), traduzível no incentivo à criação sob a forma de encomendas a compositores portugueses.
A primeira apresentação pública do QCM teve lugar em Janeiro passado, quando se iniciou a (longuíssima) integral de Haydn. Desde, então, não houve ainda espaço para fugir aos clássicos (tendo-se avançado com importantes passos para a divulgação das integrais para quarteto de Cordas de Haydn e Mozart), mas já no próximo mês de Outubro terá início um novo período que muito caracterizará a sua acção: para além de se dedicar não apenas aos clássicos, mas sim a todo o grande repertório, o QCM estreará com frequência obras encomendas para o agrupamento pela autarquia. A definição da programação até ao final de 2009 é outro indicador da sua diferença (onde se encontra Haydn e Mozart, mas também Ives, Barber, Mendelssohn, Shostakovich, Frank, Schubert e oito estreias de encomendas feitas a oito portugueses, entre os quais Chagas Rosa, Pinho Vargas e Salazar), com um mínimo de dez programas diferentes por ano.
Todos seríamos muito mais felizes (ainda que não o saibamos) se a Câmara de Matosinhos não fosse um caso inédito no que respeita ao apoio à arte musical. Proporcionar um quadro de estabilidade para o desenvolvimento da actividade artística não será sinónimo de relaxamento e preguiça dos artistas, mas sim de alicerces para um percurso que possa orientar-se pelo rigor e a excelência.
Que as manifestações dos vizinhos (indepentemente da quantidade, já que a tendência é fechar-se os olhos à qualidade) não constituam sombra ou desculpa para que as autarquias se demitam de um pensado e sustentado apoio à actividade artística (de excelência) é o que sonhamos.
D. F.

2 Comentário(s):

  • At 23/5/08 18:25, Blogger Fernando Vasconcelos escreveu

    Subscrevo a 100%. Seriamos efectivamente muito mais felizes e teriamos certamente melhor e mais música. Se me permitir irei destacar este artigo no meu blog.

     
  • At 24/5/08 01:05, Blogger arte no tempo escreveu

    Não seremos os únicos a pensar assim.
    Obrigada pelo eco e pelo destaque.

    D.F.

     

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