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A Associação Arte no Tempo tem por objectivo a divulgação da arte musical contemporânea através da promoção de eventos culturais, do incentivo à criação e à interpretação, da edição e da realização de actividades performativas.

quarta-feira, 25 de maio de 2005

Fim de Maio

Interromper um silêncio tão prolongado começa a só fazer sentido por algum assunto muito importante. É por isso que junto dois ou três assuntos importantes para o fazer.

1. Dos espectáculos a que assisti no fim-de-semana passado, aquele que mais se destacou pela positiva foi o da companhia de teatro Visões Úteis, com a sua Cidade dos Diários. Havia bastante tempo que não assistia a um espectáculo de teatro e, apesar de ter muita consideração pelo trabalho dos VU, fui assistir à Cidade dos Diários apenas com o intuito de ouvir a banda sonora. O resultado foi o de não conseguir concentrar-me exclusivamente na banda sonora, pois a peça estava extraordinariamente bem conseguida, o que fez com que me deixasse conduzir como qualquer espectador de "primeira vez". O conjunto merece todas as felicitações.
Pelo que pude apreciar da banda sonora, esta faz-se notar nos momentos certos e, ao contrário de música composta para "dar nos ouvidos", preenche a atmosfera sempre presente mas discreta, reforçando os sentidos da palavra e o carácter geral do texto. Dois ou três momentos impõem o som como aspecto a destacar.

2. Ontem transmitiu-se em directo na Antena 2 o lançamento do último livro de Alexandre Delgado "A culpa é do maestro" (Ed. Caminho da Música), obra que reúne o trabalho de 10 anos a fazer intensa e controversa crítica de música no jornal.
Infelizmente o telefone tocou e tive que sair do carro, não podendo continuar a ouvir o autor. ...Mas do pouco que ouvi, fiquei muito satisfeita e cheia de vontade de congelar o tempo para conseguir ir à livraria mais próxima antes do concerto da Kammerphilarmonie Bremen começar.
Uma das coisas que maior eco encontraram em mim foi a crítica de Alexandre Delgado à actual presença da crítica musical na imprensa escrita. Os constrangimentos financeiros e as opções editoriais levaram a que praticamente apenas os concertos "previsivelmente bons" sejam criticados. Ninguém espera que Brendel, a Sinfónica de Londres ou Sokolov façam um mau concerto ou algo de que ninguém esteja à espera. Claro que todos eles podem sempre surpreender-nos, quanto mais não seja pelo facto de não os ouvirmos ao vivo todas as semanas... nas essa surpresa, no fundo, é apenas a surpresa dos sentidos; nada que não consigamos imaginar. Claro que a crítica pode acrescentar àquilo que já toda a gente sabe e espera o facto de Trevor Pinnock ter tido alguma dificuldade em manter sossegada a sua estante no concerto da Casa da Música, bem como a silenciosa risada da orquestra perante esse comportamento do objecto; mas, nesse caso, a crítica assume um carácter de reportagem.
...Voltando à ideia de Alexandre Delgado, que diz a crítica dos recitais do Teatro Helena Sá e Costa, do
Arlindo Joaquim que se apresenta pela primeira vez ao público em Alcabideche de Baixo, ou mesmo de Arlinder Joaquinen, dos festivais de Paredes ou da Serra da Malcata?
Actualmente, talvez a crítica cumpra apenas a função de se corresponder com o público que assiste aos concertos e, mesmo assim, muitas vezes com um atraso de três ou quatro dias em relação à data do concerto. Muitas vezes já o público mal recorda o concerto a que assistiu e lá chega uma crítica com a qual já pouca gente se lembra se há-de concordar ou discordar.

(À porta fechada, continuaremos este debate dentro de dias. Esperamos chegar a algumas conclusões.)


3. No concerto da Deutsche Kammerphilharmonie Bremen com Sokolov (24 de Maio, Casa da Música), ...mais um telemóvel (não muito chocante!!!), várias assoadelas, uma simpática senhora que saía da sala de vez em quando para poder tossir lá fora, muitas tosses (sobretudo entre andamentos), palmas convictas numa "longa respiração" da sinfonia de Haydn, os moços e moças da Casa da Música que continuam a movimentar-se bastante na sala (e a bater portas!), sem que se perceba para quê, mas também um concerto extraordinário, um Sokolov "que é sempre uma surpresa", uma orquestra fora de série dirigida pelo mais bem-humorado dos maestros (Trevor Pinnock), um Haydn que se torna espantosamente interessante nas mãos daqueles artistas ...que são uns bons artistas... e...

4. As escadas da Casa da Música continuam a provocar vertigens e profundo mau-estar a muita gente. Para além das filas de pessoas de meia idade (e não só) que se vê junto à protecção lateral (transparente) das escadas principais do edifício, há pessoas com bengala (e outras com graves problemas de coluna, para quem quaisquer escadas constituem um enorme sofrimento) que são forçadas a penar por um momento de fruição: parece que o público não está autorizado a utilizar os elevadores.
Pergunto eu: que sentido faz obrigar as pessoas (daquelas que pagam bilhete e tudo!!!!!) a tomar a decisão de não voltar à Casa da Música para não terem que subir a enorme escadaria que os impele a passar o resto do fim-de-semana deitados (a tentar recuperar das dores de coluna)?!

M.R.

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